Labat, Jean Baptiste: Missionário francês, da Ordem dos Dominicanos (1663-1738). Embora Labat tenha realizado diversas viagens como missionário e publicado relatos de suas viagens pela Europa, África Oriental e Caribe, ele não chegou até a Costa dos Escravos. Labat escreve sobre essa Costa e sua população por meio da descrição do francês, Chevalier des Marchais, que esteve no reino de Uidá a serviço do Rei da França.
194 a 197
Região/Localidade: Reino de Uidá - Savi
Confiabilidade: Citaçao de outro autor
Texto Original
Tradução
Quarenta mosqueteiros com fuzil sobre os
ombros, tendo seu capitão à frente, caminham, em seguida, em grupos de quatro.
A uma distância razoável, caminha o trompete principal, seguido de vinte
trompetes tocando o melhor que podem. Após os trompetes, vêm vinte tambores
precedidos pelo tambor principal[.] Eles tocam com toda sua força, é preciso
estar acostumado a esse barulho para não ficar atordoado. As flautas seguem os
tambores, eles também são em número de vinte e são precedidos de seu chefe.
Todos esses instrumentos são da câmara do rei, às vezes são escutados uns
depois os outros e às vezes todos juntos. /195/ Se vê, em seguida, um grupo de
doze mulheres do rei, da terceira classe[.] Elas caminham seriamente em duplas
e estão carregadas de presentes que o rei envia à Serpente. São barris de aguardente,
peças de chita-da-índia e de seda. O primeiro criado da câmara do rei segue as
mulheres, vestido (como os Grandes) com tangas que se arrastam ao chão[.] Ele
caminha só com uma bengala na mão e a cabeça nua. Depois dele, vêm vinte trompetes
caminhando em trio e tocando. Quarenta mosqueteiros com fuzis sobre os ombros
caminham em quatro e seguem os trompetes. Depois dos mosqueteiros, vêm vinte tambores
e depois deles vinte flautas[.] Ambos caminham em trios. Doze mulheres do rei
seguem esses dois grupos[.] Elas também são da terceira classe e carregam sobre
suas cabeças grandes cestas de junco cheias de alimentos que o rei envia à
Serpente. Depois dessas mulheres vêm três anões do rei[.] Essas pequenas
criaturas estão vestidas como os Grandes, com tecidos enormes que se arrastam ao
chão, o que os faz parecer ainda menores. /196/ O grande mestre de cerimônias
aparece depois dos anões, vestido como os Grandes, com tangas magníficas que
arrastam ao chão[.] Ele tem a cabeça nua e uma bengala na mão. Ele é seguido
por quarenta mosqueteiros, vinte tambores, vinte trompetes e vinte flautas;
essas três tropas caminham como os precedentes e fazem um grande barulho. Doze
mulheres da terceira classe os seguem e levam os presentes da mãe do rei à
Serpente. Aparecem, em seguida, três criados da mãe do rei que levam sua
poltrona; o que caminha à frente tem o encosto da poltrona preso aos ombros e
os dois que seguem sustentam os pés. Três outros anões do rei, vestidos como os
primeiros, seguem a poltrona e antecedem de alguns passos a princesa, mãe do rei,
que caminha sozinha com uma bengala à mão; ela está magnificamente vestida, suas
tangas arrastam no chão, ela tem a cabeça coberta por um chapéu de junco muito
bem trabalhado. Ela é seguida por três das primeiras damas do palácio,
maravilhosamente vestidas, mas com a cabeça nua. Depois dessas damas, as musicistas
do palácio vêm em três corpos, /197/ como a música dos homens, isto é, tambores,
trompetes e flautas. O grande sacrificador as segue com alguma distância[.] Ele
tem a cabeça nua, uma bengala à mão, está vestido como os Grandes e muito
magnificamente[.] É ele quem fecha a cerimônia, atrás dele há apenas quarenta mosqueteiros
e alguns guardas para impedir a multidão de pessoas que poderia atrapalhar a
ordem da procissão. O Chevalier des Marchais se deu ao trabalho de contar
aqueles que participaram desta cerimônia como atores, e encontrou duzentos e
sessenta e seis homens e cento e setenta e seis mulheres, o que totalizou
quatrocentas e quarenta e duas pessoas, que caminhando bastante distanciados
uns dos outros, ocupam um grande espaço, o que facilitou a contagem.
Palavras-chaves
Entidades espirituais / Serpente
Cultura material / Instrumentos musicais / Tambor
Cultura material / Búzios/conchas/cawries
Cultura material / Bastão/cajado
Cultura material / Instrumentos musicais / Trompete/flauta...
Cultura material / Vestuário
Cultura material / Chapéu
Cultura material / Panos
Cultura material / Trono/cadeira...
Práticas rituais / Cerimônias/festas públicas
Práticas rituais / Especialistas religiosos / Identidades (títulos, terminologia)
Práticas rituais / Oferendas
Cultura material / Bebidas alcoólicas